Ultimamente estava com o cabelo e barba grandes, pois meu barbeiro é candidato a vereador. Então, quando estava em São Luís, resolvi cortá-los. Logo, fiquei pensando em alguns inconvenientes que a política trás para cada um de nós, e o motivo de participarmos dela.
Estava imerso em meus pensamentos, quando um tufo de cabelos caiu sobre a revista que folheava para distrair. Estranhei aquele cabelo prateado e de início não o reconheci como meu. Mas, ele estava ali, e era prova inconteste que o tempo, irrevogavelmente passava e que eu, vítima, como todos, envelhecia. Aquela tarde então se vestiu de melancolia...
Lembrei da minha juventude e das conversas animadas em uma roda de amigos. Em discussões acaloradas, falávamos sobre tudo e tentávamos consertar o mundo. Ao final, tínhamos a impressão de que o mundo parecia um lugar melhor. Hoje, quando nos revemos, mais maduros, serenos, calejados pela vida, ainda percebo para meu espanto e satisfação, que o idealismo não mudou. Constato que ainda tentamos mudar o mundo.
Volto ao presente e fico me perguntando o que me fez levantar bandeiras nessas eleições, já que me tornaria alvo de perseguições e alguns colegas profissionais liberais preferem a comodidade do anonimato político... Imediatamente vem à mente a imagem de minha esposa e filhos. Já necessitamos dos serviços de saúde do Município e ficamos muito preocupados com a ineficiência do sistema. Pensei várias vezes em mandar minha esposa e filhos para morar em São Luís para não correr o risco de adoecerem em Chapadinha.
Enquanto reflito, outro tufo de cabelo descolorido pelo tempo cai sobre meu colo. Aquele cabelo me recorda que eu também estou envelhecendo, e que estou também sujeito a adoecer e precisar dos serviços de saúde do município. Deveria eu me mudar com eles? – De maneira nenhuma – falo em voz alta e acabo espantando o barbeiro, que nesse momento pensava ter feito uma “barbeiragem”. Desculpo-me com ele, sorrio sozinho e continuo a pensar com indignação.
Moro em Chapadinha e me considero filho desta cidade. Escolhi Chapadinha para morar e a cidade me acolheu. Aqui adquiri família e conquistei amigos. Não tenho que me mudar ou mudar minha família de Chapadinha, e sim tentar mudar Chapadinha, tornar uma cidade segura para viver e criar os filhos. Esse foi um dos motivos de ter entrado nessa batalha quixotesca contra a prefeitura e ter me exposto com textos na internet e facebook.
Durante essa revolução pessoal, conheci muitos que partilhavam do mesmo ideal e fizemos fortes laços de amizade. Sei que eles se reconhecerão nestas linhas. Recebi críticas e elogios. Acolhi algumas críticas e outras, de tão patéticas, não mereceram ser levadas em consideração... Os elogios me dão uma compensação narcísica e fazem com que não me desestimule. Alguém já me relatou que falo o que ele gostaria de falar, e fico satisfeito ao imaginar que dou voz a muitas pessoas.
Esse grupo de insatisfeitos com a prefeitura, do qual faço parte, não é um grupo de pacifistas, e sim de atiçadores. Tentamos fazer com que as pessoas saiam do seu comodismo habitual e participem da política, que inflame a chama revolucionária e idealista que adormece em cada um de nós. Não temos grandes pretensões, mas se apenas uma pessoa for tocada por esse ideal, tudo já terá valido à pena. Queremos melhorias e queremos já!
O barbeiro termina o corte de cabelo e me sinto remoçado. Sacudo o restante do cabelo que ficou sobre meus ombros e esse gesto faz com que o peso do tempo também saia deles. Estou cheio de energia e mais ciente que nunca das decisões que tomei. Podemos não mudar o mundo, mas podemos mudar Chapadinha. Que venha a eleição. Que venha a mudança! Que venha uma Chapadinha mais bela.
Dr. Ernani Maia
(Cirurgião-Dentista)
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