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18 de dezembro de 2012

MERITOCRACIA OU FILOSOFIA DE RESULTADOS ( Por Paulo Coêlho)



Meritocracia é um sistema social no qual recompensas e ou posições hierárquicas são conquistadas apenas com base nos méritos de cada um, não são levados em conta outros fatores. 

Sendo a ferramenta de gestão mais utilizada pelas grandes empresas globalizadas, a meritocracia é a que mais apresenta resultados satisfatórios, frente ao perfil profissional dos concorrentes, centrado principalmente na coragem de encarar e superar metas consideradas difíceis e no autogerenciamento do desempenho. 

No serviço público, um governo comprometido, que deseja consolidar a profissionalização dos serviços prestados à Sociedade, o mérito deve ser levado em consideração através de uma gestão agregadora de novas competências, dando menos importância a fatores como; origem, posição social, sexo, grupo racial, poder econômico e político. 

Vendo por essa ótica, a seleção de candidatos aos cargos que integrarão os governos que assumirão as próximas administrações municipais, se faz necessária uma seleção dos colaboradores para que os futuros administradores consolidem uma nova cultura organizacional para a administração pública. Esta nova metodologia de gestão pública define os candidatos aos postos chave pelos seus próprios méritos, e visa fundamentalmente proporcionar a igualdade de oportunidade a todos que postulam posições nas futuras administrações, ou seja; o principal requisito é o conjunto de seus conhecimentos e habilidades. 

Tendo em vista a exigência de mais serviços públicos pela sociedade, a prestação de bons serviços se torna indispensável no sentido da valorização dos mesmos. Valorização, no caso, são resultados palpáveis, decorrentes de um trabalho de qualidade. Só que trabalho de qualidade não cai do céu. É necessário haver funcionários verdadeiramente capacitados e motivados, aliados a um processo de inovação contínua. 

Uma vez motivados e capacitados os colaboradores estarão aptos a oferecer resultados, ou seja; melhoria na qualidade de vida do grande cliente, que é o contribuinte. 

Para tanto, é essencial o questionamento de hábitos e práticas tradicionais que emperram a administração e nem sempre são confortáveis aos cidadãos, e causa questionamento na qualidade dos serviços públicos, a possibilidade de interrogação depende, portanto, da cultura interna da administração, na medida em que existam processos e canais para apresentação e implementação de novas ideias. 

No entanto, ideias diferentes nem sempre são fáceis de ser aceitas por causa da natural resistência humana a sair da zona de conforto. Às vezes, conseguir essa proeza equivale quase a realizar uma conversão religiosa. A experiência científica mostra que é muito difícil persuadir alguém que já tem opiniões formadas. Por outro lado, o ser humano só é racional na medida em que, entre outros fatores, baseia suas opiniões e crenças na realidade. Na administração pública, diversos conceitos que compõem o sistema de crenças vigente são baseados meramente em usos e costumes ou em intuição. 

Sendo assim, por mais que as pessoas se aferrem a seus modelos mentais, é a realidade que vai dizer se o modelo está certo ou errado, o que é muito comum quando se trata de novas ideias. 

Para tanto, o questionamento de práticas tradicionais é um passo. Mas sem servidores motivados, é difícil pensar em inovação e geração de resultados de qualidade. Tal motivação se faz presente quando o comportamento é guiado pela expectativa de recebimento de recompensas, que pode ser de várias formas como, por exemplo, na forma de autorrealização. Pois as pessoas gostam de sentir que fazem a diferença. A autonomia é outro fator de motivação. As pessoas tendem a apresentar maior satisfação pessoal quando podem organizar suas atividades, a competência que os indivíduos percebem ter em suas atividades só influencia sua motivação quando acompanhada por um sentimento de autonomia. É o que espera a sociedade dos servidores públicos, funcionários trabalhando motivados de forma engajada capazes de apresentam resultados reais, no sentido de melhorar a vida dos cidadãos. 

No campo da Educação o processo meritocrático deve ser administrado com transparência para que não aconteçam injustiças como no vizinho Chile, onde o financiamento é regulado pela demanda. Escolas que perdem alunos sofrem cortes, e aquelas que aumentam o número de matrículas são compensadas. A falta de transparência é identificada como um fator desestabilizador, pois não se sabe quais escolas são melhores ou piores. 

Segundo Gustavo Iaeis; “métodos avaliatórios que indiquem quem está bem ou mal e que, desta forma, auxiliem na adoção de alternativas para quem não se saiu bem, são importantes e necessários”. 

Diane Ravitch, ex. secretária-adjunta de educação dos EUA na gestão Bush pai, que defendeu durante anos a gestão da educação focada na meritocracia atualmente alerta para os perigos deste tipo de política, ainda seguida em seu país. 

Segundo especialistas, testes nacionais dão apenas uma fotografia instantânea do desempenho escolar e não podem ser usados como únicos parâmetros para adoção de medidas, além disso; pesquisadores afirmam que quando um sistema se baseia em ganhos e punições, os professores buscarão um jeito de driblar as avaliações. O que é extremamente injusto se fecharem escolas com desempenho ruim nos testes, como ocorre nos Estados Unidos, pois muitas destas estão localizadas em localidades pobres, onde a oferta de serviços básicos e qualidade de vida são precários, isso é uma verdadeira mostra de que a crise educacional está diretamente ligada ao aumento da desigualdade social, com a fuga da elite para o setor privado. 

Para Kumar Singam, é perigoso utilizar a política de gestão meritocrática na educação adotada sobretudo nos Estados Unidos já há vários anos, quando analisamos o resultado desta no desempenho do país no PISA. Os jovens estadunidenses se encontram na 17º posição no ranking mundial, enquanto o vizinho Canadá está na 6º. 

Críticos afirmam que política educacional não deve se basear nas listas classificatórias popularizadas pela mídia, mas em estudos rigorosos como ocorre em países desenvolvidos educacionalmente. 


Paulo Coêlho, 
(Cidadão chapadinhense, Pedagogo, professor universitário, especialista em Docência do Ensino Superior e Educação do Campo)


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